Do Caos à Marreta do Saber

Acredite, estudar vai muito além de assistir vídeos interessantes, praticar escalas, percorrer métodos e ultrapassa a simples aquisição de informações. Não se trata de prescrição ou modelos de como fazer para ser mais produtivo. É mais sobre a alquimia de transformar o que se vê em o que se entende. Sobre o que você pode fazer com tudo isso que leu, assistiu e praticou.

O caos é o ponto de partida, e tudo bem (ou não)

Somos bombardeados por uma multiplicidade de conceitos, ideias e informações, especialmente no mundo virtual. Por isso, a necessidade de melhorar a eficiência de estudo é ainda maior na graduação. Quando somos jogados para dentro de um universo de novos temas, conceitos e referencial prático e teórico, é natural sentir-se sobrecarregado.

O “caos inicial” costuma representar o ponto de partida diante de pensamentos que surgem fragmentados, dúvidas e até mesmo contradições. Isso não é um problema, mas sim o ponto de partida para qualquer aprendizado significativo. Estudo e conhecimento são processos intrinsecamente conectados; para compreender o mundo que nos cerca, é essencial estudá-lo. Dessa maneira, entendo que estudar e conhecer são necessidades fundamentais da existência humana, pilar para o desenvolvimento do pensamento e da análise crítica.

📚 Platão, por exemplo, em sua “Alegoria da Caverna“, já destacava a importância de tomar caminho em direção à libertação intelectual (conhecimento). Sempre questionando o mundo e as verdades estabelecidas.

A universidade se destaca por ser um ambiente dinâmico de conexões, que, ao desenvolver uma série de atividades, fomenta o estudo coletivo. Estudar também é construir processos. A graduação em música, por exemplo, não apenas organiza e formaliza temas de estudo por meio de disciplinas, mas também promove a colaboração e a troca de experiências essenciais para a formação do músico. Um percurso de graduação é também o momento em que somos convocados a desenvolver processos de estudo mais eficientes. Necessário dar conta das novas demanda.

🎓 Na Graduação, é possível:

• Abordar tópicos essenciais: a grade curricular é cuidadosamente elaborada para cobrir os fundamentos e as discussões mais relevantes de cada área, garantindo uma base sólida de conhecimento.
• Estabelecer diálogos/discussões: a sala de aula é o espaço adequado para o debate de ideias, onde diferentes perspectivas enriquecem a compreensão dos temas e estimulam o pensamento crítico.
• Apresentar autores: professores introduzem obras e pensadores cruciais para cada disciplina, conectando os alunos à pesquisadores que marcaram o campo do saber.
• Propor exercícios: atividades práticas, ferramentas importantes para consolidar o aprendizado e desenvolver habilidades específicas.
• Realizar avaliações: as avaliações são feramentas importantes para entender e direcionar o estudo além de identificar áreas que necessitam de maior dedicação.

Estudo individual ✍️

O momento de estudo musical individual é crucial e complementar ao aprendizado em grupo. Ele é dedicado à prática aprofundada dos temas abordados em sala de aula, permitindo o desenvolvimento técnico e musical do estudante. Essa dedicação solitária é fundamental para a construção e o domínio de um repertório, tanto no aspecto técnico quanto interpretativo. Ao aprimorar-se individualmente, o músico se prepara para performar com mais qualidade e segurança no contexto coletivo.

Planejamento 🗓️ – a importância de um cronograma de estudo personalizado

O momento da organização é a etapa em que o estudante planeja suas ações frente às demandas de estudo. É quando se estrutura o que é necessário aprender, definindo prioridades e métodos. Criar um cronograma de estudo próprio é fundamental. Ele precisa atender às suas necessidades individuais, respeitando seu ritmo e considerando suas dificuldades específicas. Um planejamento personalizado é a chave para otimizar o aprendizado e alcançar seus objetivos.

A orientação no instrumento musical 🎶

Para o desenvolvimento no instrumento musical, a orientação individual com um professor é, de fato, necessário. Um bom professor é capaz de identificar as necessidades específicas do aluno, oferecendo um ensino personalizado que acelera o progresso e corrige vícios. Essa atenção focada garante que o aprendizado seja mais eficiente e direcionado.

O momento da pesquisa 🛠️

A sala de aula não é um espaço de mágica; mágica é apenas uma traquinagem. O aprendizado é fruto da dedicação, do esforço e da metodologia, e não de soluções instantâneas ou ilusórias.

O momento da pesquisa é dedicado à investigação aprofundada de um tópico, buscando novas informações e expandindo o conhecimento sobre o assunto. É a fase de exploração e descoberta, essencial para a compreensão mais ampla e crítica.

Desmistificando os “Gênios” 💡

Sinto informar… mas não existem seres extraterrestres por trás das grandes obras musicais. Nem Beethoven, nem Mozart, nem Hermeto Pascoal. É crucial que saibamos separar a figura do ídolo da do sujeito comum.

Por trás de cada grande apresentação, há um trabalho árduo que a precedeu. Um texto profundo e inovador, por exemplo, precisou ser planejado, escrito e reescrito inúmeras vezes.

Derrubar os ídolos

Os ídolos não existem fora de um universo de idealizações e, de fato, são muito comuns como personagens narrados por livros de história da música. Nietzsche problematiza essa concepção demonstrando as inconsistências dos fundamentos sobre os quais esses “ídolos” (valores, crenças, ideais) foram construídos.

Estudar de maneira crítica é justamente perceber que nossos ídolos têm pés de barro e podem ser desconstruídos. O conhecimento, nesse sentido, é uma espécie de marreta capaz de destruir figuras idealizadas, revelando a realidade do esforço e da dedicação.

O Que se espera de um aluno?

Que seja capaz de:

• Produzir estudos: espera-se que o aluno seja capaz de produzir seus próprios estudos, o que demanda uma sólida organização e sistematização dos materiais estudados.

• Transitar entre teoria e prática: que consiga conectar a teoria com a prática, desenvolvendo um estilo único produção de conhecimento.

• Capacidade de produzir conhecimento: isso implica em ler com qualidade — não apenas decodificar, mas compreender, analisar e sintetizar informações. Além disso, espera-se que o aluno crie mapas ou outras ferramentas para posicionar temas e conceitos, demonstrando uma compreensão estruturada.

Em última análise, aprender a estudar é parte da alfabetização do musicista. Trata-se de munir o artista de ferramentas de pesquisa e ensinar como usá-las adequadamente, capacitando-o a buscar e produzir novos conhecimentos.

🤝 Caro leitor, para encerrar, proponho um exercício prático: pegue um caderno de notas e dedique um tempo a descrever suas próprias formas de organização.

Reflita sobre como você aprende melhor. Quais métodos funcionam para você? Quais são seus maiores desafios e como você pode superá-los? Essa autoanálise é um passo fundamental para otimizar sua jornada de estudo.