Os ritmos de Cabo Verde [Folha de SP]

Fonte: Jornal Folha de São Paulo (09/02/1988) – sem autoria identificada.
Acesso: https://www1.folha.uol.com.br/

Os gêneros musicais no arquipélago de Cabo Verde são variados e generosos. Leia abaixo quais são os principais ritmos locais.

Batuco: É o gênero musical mais antigo de Cabo Verde. Suas origens são obviamente africanas. O batuco é constituído por cânticos e dança. Basicamente é utilizado para a elaboração do ritmo o bater das palmas sobre um pano enrolado que se coloca por entre as pernas. Essa improvisação é a simulação de tambores, já que os escravos que chegaram ao arquipélago não encontraram o material para a fabricação dos seus instrumentos tradicionais.
Quase todas as ilhas são de origem vulcânica e não possuem animais nativos ou qualquer vegetação. No embalo do batuco temos o torno, uma dança tipicamente africana em que as bailarinas rebolam simulando o ato sexual.

Funaná: O ritmo mais agitado do arquipélago. Os instrumentos utilizados são o acordeão e uma barra de ferro, que é friccionada sobre uma faca que serve para a percussão. O funaná é uma música sensual e quente.
Atualmente existem vários grupos fazendo um novo estilo com o ritmo. Podemos chamar esse híbrido de “pop-funaná”, em que samplers, sintetizadores e baterias eletrônicas fazem parceria com os instrumentos tradicionais.

Cola: O ritmo é encontrado nas ilhas com as suas variantes específicas. Os instrumentos utilizados são tambores e apitos. Existe um ritual de fertilidade da terra com a coladeira, quando acontecem festejos no mês de junho.

Morna: A morna é o gênero musical mais genuinamente cabo-verdiano. É a expressão máxima da dor e do sofrimento do povo de Cabo Verde: da partida e da saudade do ente querido, da emigração, da fossa, da época das escravatura. Diz a lenda que as primeiras toadas rítmicas e queixosas da morna nasceram do som combinado dos remos batendo na água. O ato cadenciado de remar, aliado à marcação do compasso binário, tipo “remo…, remo…”, por meio da voz dos próprios remadores. Segundo pesquisadores, sua origem é o cruzamento do cancioneiro medieval português, o fado, os cânticos litúrgicos e as modinhas luso-brasileiras com a dor dos escravos africanos. A morna é repleta de variações harmônicas à base de violões, cavaquinho, violino e viola de dez cordas.

Coladeira: Surgiu como adaptação mais acelerada e alegre da morna. Assemelha-se muito a uma mistura de lambada com o zouk caribenho da Martinica e Guadalupe. As letras são sarcásticas e cheias de humor. (AV)

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